VIAGENS À VOLTA DO VINHO – DOURO E O PORTO - WINEBOX4YOU
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VIAGENS À VOLTA DO VINHO – DOURO E O PORTO

O Douro é a mais antiga Demarcação Vinícola do mundo. Datada de 1756, foi criada no reinado de D. José I pelo seu ministro Marquês de Pombal.

Está implementada no vale do rio Douro e seus afluentes e limitada a oeste por Mesão frio e a Este por Freixo de Espada à Cinta e Espanha.

A Região do Douro é reconhecida pela UNESCO como “Património da Humanidade” desde 2001. Esta região extremamente bela e agreste, oferece condições excelentes para o cultivo da vinha, que se traduzem e expressam nos seus vinhos fabulosos (mundialmente conhecidos e apreciados como dos melhores do mundo), devido à sua complexidade, estrutura e subtileza, provenientes de todos os factores únicos da região.

Desde logo, o ser humano, que a par com as condições de solo e clima fazem desta uma região ímpar, a única aonde considero que o homem faz parte do” terroir”. Foram as gentes do Douro, em gerações sucessivas de avós, filhos e netos, que fizeram o Douro (que amaciaram a rudeza do relevo, que tornaram possível a cultura da vinha numa zona tão peculiar e única, mas também tão difícil de cultivar, tão extrema nos elementos, no clima, no relevo, na dureza), visível nos milhares de socalcos, essencialmente compostos por xisto e nos milhares de quilómetros de muros de sustentação, que resultaram na criação de uma paisagem de beleza única. Conheço todas as regiões do país relativamente bem e só aqui se sente esta quase-fusão do homem com a terra, que vem da cumplicidade e do esforço exercido durante gerações neste Douro, que as gentes que o construíram, consideram seu.

Muito montanhosa, a região encontra-se protegida da influência atlântica pela Serra do Marão. O clima é seco, com invernos frios e verões muito quentes, o que aliado às características do solo (principalmente xistoso) e à sua topografia, atribui características que favorecem a longevidade dos seus vinhedos, assim como enriquecem e condensam os mostos em cor e açúcar que, por sua vez, irão resultar em vinhos concentrados, densos de cor e volumosos no palato.

É no Douro que se produz o famoso Vinho do Porto que durante muito tempo foi o único valorizado. A denominação de “Vinho do Porto” é explicada pelo facto do vinho ser armazenado e comercializado a partir do porto situado entre as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia. O vinho descia o rio Douro nos característicos barcos Rabelos e envelhecia nos armazéns de Vila Nova de Gaia, já que esta zona apresentava poucas variações de temperatura durante o ano. O vinho base para o Vinho do Porto, é feito e fortificado nas adegas do Vale do Douro e posteriormente envelhecido na Região ou em Gaia, nas instalações das grandes caves, dando origem a vários estilos, desde Branco Jovem e frutado, Tawny e Ruby, tendo o seu expoente máximo nos Vintage, provenientes de uma só colheita de anos excepcionais em qualidade, com grande potencial de guarda em garrafa.

Nas últimas décadas, notou-se, com toda a justiça, uma valorização merecida dos vinhos de mesa produzidos no Douro, tendo ganho grande notoriedade a nível mundial, devido às suas características de excelência.

A Região estende-se pela bacia hidrográfica do rio Douro e seus afluentes, com uma área vitícola que ocupa mais de 46 000 hectares e divide-se em 3 sub-regiões distintas, devido a factores climáticos e socioeconómicos:

O Douro Superior (que se estende desde a fronteira de Portugal com Espanha), passando pelo Alto Corgo (que é coração do Douro, onde nascem muitos dos vinhos do segmento superior), até cerca de noventa quilómetros de distância da cidade do Porto, o Baixo Corgo.

 

Sub-região do Baixo Corgo

O Baixo-Corgo cobre toda a margem do Rio Douro, desde Barqueiros até Oeste do Rio Corgo (Régua). Abrange os concelhos de Vila Real, Santa Marta de Penaguião, Mesão Frio, Peso da Régua, Armamar e Lamego.

Esta é a região com menor território, mas com maior percentagem na ocupação de vinhas plantadas. Tem uma elevada produção de vinhos do Porto, sendo o berço da viticultura na região do Douro. No entanto, também se tem vindo a revelar excelente na produção de vinhos de mesa. Os vinhos aqui produzidos, são geralmente mais jovens, frescos e apresentam um carácter frutado, devido ao seu clima, mais ameno e chuvoso que nas restantes sub-regiões. É também a zona mais fértil e com maior rendimento das vinhas.

 

Sub-região do Cima Corgo

O Cima Corgo apoia-se no Baixo Corgo, pros- seguindo para Este até ao Cachão da Valeira. Abrange os concelhos de Tabuaço, Sabrosa,

Alijó, Murça e São João da Pesqueira.

A paisagem desta sub-região é totalmente distinta das restantes. As encostas formam um relevo acidentado e os vales dos rios constituem formações geológicas à base de xisto, sendo o solo mais agreste.

O clima é mais seco e os rendimentos são baixos. O Cima Corgo contém a maior concentração de vinhas históricas de alta qualidade.

Existe pouca incidência de chuvas, o que leva a que os vinhos sejam mais concentrados, com um maior potencial para o envelhecimento. Aqui se encontram localizados os principais produtores de Vinho do Porto.

 

Sub-região do Douro Superior

O Douro Superior apoia-se no Cima Corgo e vai até à fronteira espanhola. Abrange os concelhos de Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Torre de Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta, Vila Nova de Foz Côa, Mêda e Figueira de Castelo Rodrigo.

É a maior de todas as sub-regiões e também a que tem o clima mais quente e seco. O seu relevo é menos acidentado, constituindo inclinações mais suaves, tornando mais fácil a mecanização. Devido à reduzida precipitação, as vinhas produzem menos, no entanto, dão origem a alguns dos melhores Vinhos do Porto Vintage.

Devido à sua posição geográfica comparativamente às restantes sub-regiões, está mais isolada, tirando partido de uma menor intervenção humana, mantendo a sua paisagem e biodiversidade melhor preservadas.

Esta sub-região era conhecida como o “Novo Douro”, pois a viticultura só se veio a desenvolver em grande escala a partir de 1791, quando as rochas que obstruíam o Cachão da Valeira foram retiradas e o rio ficou aberto à navegação.

As castas cultivadas na região, algumas provenientes da idade media, são célebres pela sua história secular. As melhores castas para a produção de vinho do Douro e Porto são: a Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Aragonez (Tinta Roriz) e Tinto Cão. Existem também outras muito importantes e com bastante expressão na região, como por exemplo, as castas Tinta Amarela (Trincadeira) e Souzão. A produção de vinhos brancos é essencialmente sustentada pela plantação de castas como a Malvasia Fina, Gouveio, Rabigato e Viosinho. Para a produção de Moscatel, planta-se a casta Moscatel Galego.

 

Castas

Tintas

Touriga Nacional

No passado, chegou a dominar a região do Dão, tendo sido igualmente relevante no Douro, antes da invasão da filoxera, sabendo-se que hoje ambas as regiões reclamam sua paternidade. É uma casta nobre e muito apreciada em Portugal. A pele grossa, rica em matéria corante, ajuda a obter cores intensas e profundas. A abundância dos aromas primários é uma das imagens de marca da casta, apresentando-se simultaneamente floral e frutada, sempre intensa e explosiva. Pouco produtiva, é capaz de produzir vinhos equilibrados, com boas graduações alcoólicas e excelente capacidade de envelhecimento.

Aragonez (Tinta Roriz)

É a casta ibérica por excelência, uma das raras variedades a ser valorizada dos dois lados da fronteira, convivendo em Portugal sob dois apelidos: Aragonês e Tinta Roriz É uma casta precoce, muito vigorosa e produtiva, facilmente adaptável a diferentes climas e solo. Se o vigor for controlado, oferece vinhos que concertam elegância e robustez, fruta farta e especiarias, num registo profundo e vivo. Prefere climas quentes e secos, temperados por solos arenosos ou argilo-calcários. É tendencialmente uma casta de lote, beneficiando recorrentemente da companhia de outras castas.

Touriga Franca

É a casta ibérica por excelência, uma das raras variedades a ser valorizada dos dois lados da fronteira, convivendo em Portugal sob dois apelidos: Aragonês e Tinta Roriz É uma casta precoce, muito vigorosa e produtiva, facilmente adaptável a diferentes climas e solo. Se o vigor for controlado, oferece vinhos que concertam elegância e robustez, fruta farta e especiarias, num registo profundo e vivo. Prefere climas quentes e secos, temperados por solos arenosos ou argilo-calcários. É tendencialmente uma casta de lote, beneficiando recorrentemente da companhia de outras castas.

Tinto Cão

Por ser quase economicamente inviável, ao oferecer uma produtividade incrivelmente baixa, a sua sobrevivência já esteve em risco. Possui cachos muito pequenos, apresentando-se como uma variedade de maturação tardia. A sua película densa e grossa garante-lhe uma resistência adequada aos ataques de míldio e podridão. A boca evidencia a grandeza da casta, visível no equilíbrio perfeito entre taninos, acidez e açúcar, na suavidade e dureza dos taninos, dando corpo a vinhos florais, densos, sólidos e duradouros. É frequentemente lotada com as castas Touriga Nacional e Aragonez, entre outras. Produz vinhos carregados de cor, com aromas delicados e florais.t

Tinta Barroca

É uma casta pródiga no rendimento, generosa no grau alcoólico, conseguindo combinar produções elevadas com teores de açúcar generosos. Convive mal com os excessos de calor e stress hídrico, passificando com facilidade em sobrematurações súbitas. Regular na produção e resistente a doenças e pragas, dá origem a vinhos bem compostos de cor, macios mas rudes e rústicos, de elevado potencial alcoólico. Raramente é engarrafada em estreme, estando presente na maioria dos lotes durienses. Na África do Sul assumiu um protagonismo desusado, sendo aproveitada regularmente nos vinhos tranquilos e generosos do país austral.t

Brancas

Viosinho

De génese transmontana, a casta Viosinho sobrevive dispersa pelas vinhas velhas brancas. É uma variedade de valorização recente, contudo é uma variedade pouco produtiva, com rendimentos muito baixos, o que ajuda a explicar a popularidade reduzida. Apesar de pouco aromática, oferece um excelente equilíbrio entre açúcar e acidez, proporcionando vinhos estruturados, encorpados e ricos em álcool. Apresenta cachos e bagos pequenos, de maturação precoce, muito sensíveis ao oídio e à podridão, preferindo os climas quentes e soalheiros. Dá origem a vinhos estruturados e potentes, a que, no entanto, falta habitualmente vigor e frescura. Por isso é regularmente lotada com outras castas, capazes de acrescentar a acidez e riqueza aromática que por vezes lhe parecem faltar.

Gouveio

Profícua no Douro, a casta Gouveio encontra-se hoje disseminada por todo o território continental. Durante anos foi catalogada erradamente como Verdelho, condição que conduziu a algum desacerto entre as duas nomenclaturas. É uma casta produtiva e relativamente temporã, medianamente generosa nos rendimentos, sensível ao oídio e às chuvas tardias, com cachos médios e compactos que produzem uvas pequenas de cor verde-amarelada. Por ser uma casta naturalmente rica em ácidos, que proporciona vinhos frescos e vivos, a sua difusão a Sul, sobretudo no Alentejo, tem sido frutuosa e célere. Dá origem a vinhos de acidez firme e boa graduação alcoólica, encorpados, de aromas frescos e citrinos, com notas a pêssego e anis, com bom equilíbrio entre acidez e açúcar. Desfruta de boas condições para apresentar um bom envelhecimento em garrafa.

Côdega Larinho

Casta de vigor e produtividade médios, sendo sensível ao míldio e pouco sensível ao oídio e à podridão cinzenta. O cacho é grande e compacto, com bago de tamanho médio, arredondado, de cor amarelada, com película medianamente espessa, polpa suculenta. É uma casta de maturação média, os mostos possuem um potencial alcoólico médio e uma acidez baixa. O vinho apresenta-se normalmente de cor citrina com aroma bastante complexo, frutado intenso (frutos tropicais) e floral. Na boca mostra algum défice em frescura (pouco ácido), compensado com um excelente perfil aromático e grande persistência. Normalmente, uma correcção ácida melhora o perfil gustativo destes vinhos.

Rabigato

De origem duriense, a casta Rabigato estende-se por todo o Douro Superior. Por erro, no passado foi relacionada com a casta Rabo de Ovelha, variedade com a qual não aparenta qualquer semelhança. Rabo de Ovelha que, de forma igualmente errónea, perfilhou a designação Rabigato na região do Vinho Verde, com a qual não tem qualquer relação. Os vinhos oferecem acidez viva e bem equilibrada, boas graduações alcoólicas, frescura e estrutura, características que a elevaram ao estatuto de casta promissora no Douro. Apresenta cachos médios e bagos pequenos, de cor verde amarelada. Poderá, nas melhores localizações, ser vinificada em estreme, oferecendo notas aromáticas de acácia e flor de laranjeira, sensações vegetais e, tradicionalmente, uma mineralidade atrevida. É a boca, porém, que justifica a sua reputação, com uma acidez mordaz e penetrante, capaz de rejuvenescer os vinhos brancos.

Malvasia Fina

A Malvasia Fina está presente no interior norte de Portugal, é particularmente sensível ao oídio e moderadamente à podridão, míldio e desavinho, proporcionando rendimentos extremamente variáveis e inconsistentes. Os vinhos anunciam, por regra, sintomas melados, no nariz e boca, vagas notas de cera e noz-moscada, aliados a sensações fumadas, mesmo quando o vinho não sofre qualquer estágio em madeira. Os vinhos de Malvasia Fina são tradicionalmente discretos, pouco intensos, razoavelmente frescos e medianamente complexos. É uma casta de lote que, nas regiões mais frescas e quando vindimada cedo, funciona como base de Espumantes.

 

…destas castas, deste solo, deste clima, desta topografia e desta maneira árdua de trabalhar a terra, nascem dos melhores vinhos do Mundo com tradição enraizada em todos os seus processos de viticultura, vinificação, maturação e envelhecimento. A nova geração de “winemakers”, também se soube modernizar, acompanhando as tendências dos gostos internacionais, assim como adaptar-se à revolução e expansão da nova gastronomia, pelo que o Douro oferece vinhos harmonizáveis com as principais tendências culinárias, tendo sempre como âncora na modernidade, a tradição.

Vale a pena perdermo-nos pelo Douro profundo, provar todos os vinhos que se produzem por lá, desde a mais pequena quinta, até à maior empresa exportadora. Com certeza serão surpreendidos pela genuinidade dos lugares, dos vinhos e das gentes, assim como da gastronomia local, sempre em consonância com os seu vinhos. Tudo isto acompanhado de uma beleza natural arrebatadora, que nos embriaga os sentidos e nos transporta para fora de nós.

Boas provas e disfrutem desta região maravilhosa, com tempo, se puderem.

Saudações vínicas.

 

Bibliografia:

IVDP IP
Portugal By Wine
Infovini
Wikivinha
Site Wine
Instituto da Vinha e do Vinho

 

Por José Paulo Teixeira

In revista Bica



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