26 Mai Um local especial
“As videiras passaram todo o Inverno retorcidas e ásperas a fingir de mortas, mas começaram agora a cobrir-se de vides frescas como água dos ribeiros. As carreiras de cepas ficam cada dia mais verdejantes e há, na erva alta que cresce entre elas, milhares de pequenas flores do prado: dentes de leão amarelos com um coração coruscante de branco, extensões imensas de margaridas como neve de Primavera sobre a erva.”
Paulo Varela Gomes in “Ouro e Cinza”, Edições Tinta da China
Na Quinta do Medronheiro, a pouquíssimos quilómetros de Viseu, é o ambiente bucólico que nos encanta. Como se o tempo tivesse parado algures em meados do século passado para preservar estes 37 hectares dos malefícios de um progresso desenfreado.
A antiga exploração agrícola e pecuária perdeu o fulgor de outrora, mas nem isso transparece ao percorrermos vagarosamente os caminhos graníticos que envolvem o casario tipicamente beirão. Da vinha, no topo da Quinta, virada ao sol matinal da Estrela e irrepreensivelmente cuidada, avista-se uma mata de carvalhos despidos de folhas, onde despontam, aqui e além, pequenos rebentos que indiciam a aproximação da Primavera; num manto verde junto ao rio que corre ao fundo, umas vacas indolentes vão ruminando indiferentes aos nossos olhares curiosos, abanando a cabeça de tempos a tempos para afugentar um ou outro passarito; ao lado, mas devidamente separados das arouquesas não vá a indiferença ao que as rodeia ser apenas aparente, dois cavalos troteiam lado a lado em direcção ao rio; mais abaixo, junto a uma queda de água, um velho moinho de pedra meio encoberto pelo arvoredo serve de poiso a um guarda-rios de asas azuis e dorso alaranjado.
Há por aqui uma tranquilidade que nos remete para o vagaroso tempo da infância em que tudo nos era familiar: o granito das casas, o cheiro à terra acabada de fresar, o mugido das vacas, o repicar do sino na aldeia mais próxima, o marulhar das águas no ribeiro.
E é esse aconchego caseiro que faz da Quinta do Medronheiro um local especial.
O Hotel rural que domina a propriedade onde também se produz um belíssimo vinho do Dão, resultou de profundas obras de reabilitação, após a aquisição, em 2001, pela família Oliveira, que culminaram num equilibrado conjunto arquitectónico, onde perpassa o cuidado pela preservação da traça beirã.
Em cada um dos 16 quartos disponíveis no Hotel, sobressai o contraste entre a rusticidade do granito e da madeira com o design do mobiliário que, resulta de forma equilibrada e aconchegante. Os espaços sociais, cuidadosamente decorados de forma a criar pequenos recantos, remetem-nos para a casa dos avós, onde tudo era meticulosamente organizado, mantendo, no entanto, a acolhedora sensação de uma casa com alma.
Da cozinha, a cargo do Chef ucraniano Volodymyr, chegam aromas antigos de estrugidos parcimoniosamente apurados em lume brando impelindo-nos a experimentar o resultado do laborioso trabalho do Enólogo Hugo Chaves que, nos três hectares de vinha protegidos pelas Serras da Estrela, Caramulo, Nave e Buçaco, conseguiu produzir um vinho do Dão de elevadíssima qualidade. O Oloroso, assim se chama o tinto da Quinta do Medronheiro em homenagem a um dos cavalos da casa, é um vinho de aroma intenso e taninos nobres, suscetíveis de longo envelhecimento. Produzido a partir das tradicionais castas do Dão, de onde sobressaem a Touriga Nacional e o Jaen, este Oloroso é um vinho gastronómico, que pede o acompanhamento dos pratos tradicionais da região.
Aproveitando a recuperação da casa destinada à adega, onde se realizam provas de vinhos, os proprietários decidiram, em boa hora, fazer uma sala de eventos envolta pela vinha e por um pequeno jardim botânico de onde sobressaem os medronheiros que dão nome à Quinta.
Na Quinta do Medronheiro, tudo foi pensado ao pormenor sem parecer exagerado ou desenquadrado da beleza campestre que o rodeia. E é esse respeito pelas origens, essa autenticidade, aliados à ancestral hospitalidade beirã que fazem deste hotel rural uma extensão de nossa casa.